sexta-feira, agosto 26

Discutindo as Visões sobre o Design

Acabei não comentando as visões sobre o Design que postei ontem.
Acredito que cada uma das cinco coexiste em qualquer cidade de médio porte e, dependendo da época, uma fica mais notória que outra. Atualmente, vejo uma forte visão das estratégias de Marketing guiando os projetos de Design. Já vi até professores comentando que o Design Gráfico é uma atividade que está dentro do Marketing. Por isso expressei abaixo minhas preocupações com a manipulação de idéias através de imagens que desenvolvemos maçissamente hoje em dia.

Por outro lado, existe a visão autoral que, acredito, sempre desempenha um papel de destaque no terreno de nossa profissão. Não sei se devido à formação acadêmica (pouco crítica) ou ao narcisismo (mesmo quando não refletido ou assumido), muitos designers se deixam levar pelas ondas da vaidade na hora de conceber uma peça gráfica. Arriscaria até mesmo dizer que a grande maioria dos designers que conheço projeta desta forma. Exagerando, diria ainda que a junção destas duas vertentes pode resultar numa receita explosiva: Jobs elaborados pelo departamento de marketing fermentados por um processo metodológico e temperados abundantemente com a vaidade de um bom designer podem resultar um prato perigoso. Um exemplo: embalagem de Água Diet. Não é brincadeira. O slogam diz: “Diet por Natureza”. (jornal O Globo, pg 26, 23 de fevereiro de 2005).

Enfocar a comunicação no processo de Design parece chover no molhado. Mas, ao conceituar a profissão como esclarecido no item 3, além de delimitar nosso campo de ação, também estamos dando um passo em direção a uma visão mais holística e humanista sobre o Design. Nesta definição o centro das atenções passa a ser o sujeito que interpretará a menssagem. Aqui devemos projetar conforme suas necessidades de comunicação. Para isso devemos dedicar algum tempo para conhecê-lo melhor. Só desta maneira garantiremos o sucesso na compreensão da mensagem.

A quarta concepção talvez seja a mais inovadora: para determinados projetos que envolvem temas delicados e uma forte sugestão para a mudança de comportamentos, condutas ou atitudes (campanhas de trânsito, de saúde pública, etc) é tão importante que conheçamos o meio onde está inserido o sujeito (ou sujeitos) alvo da mensagem que necessitamos trabalhar junto a uma equipe com profissionais de outras áreas para compreendê-lo melhor. Esta idéia do designer como um profissional cujos talentos e saberes podem ser utilizados para a diminuição de problemas me parece muito oportuna em nossa sociedade. Pretendo dedicar-me a ela com mais profundidade nas próximas sessões com exemplos de alguns projetos que venho identificando.

Por fim, a idéia de um designer engajado muito se articula com a visão acima e me parece que é justamente o que falta atualmente: uma visão de classe, de coletividade entre designers. Acima disso acredito que podemos nos articular para utilizarmos nosso potencial persuasivo para tratar questões cruciais de nosso tempo. Mas isso também pretendo discutir bem devagar nas próximas postagens….

A Ideologia do Design

“O Design seria, antes de tudo, um instrumento para a materialização e perpetuação de ideologias, de valores predominantes em uma sociedade, ou seja, o designer, consciente ou não, reproduziria realidades e moldaria indivíduos por intermédio de objetos que configura, mesmo que poucos designers aceitem a faceta mimética de sua atividade”.

(Bomfim, G. A. Fundamentos de uma Teoria Transdisciplinar do Design: Morfologia dos objetos de uso e sistemas de comunicação, Estudos em Design Volume V, numero II, Rio de Janeiro, 1997)



Este é um aspecto do design que costumo valorizar muito. Me parece bastante triste perceber que muitos profissionais não se dão conta que transmitimos valores com o nosso trabalho. Pelo fato de trabalharmos com imagens e estas terem uma velocidade rápida de assimilação, isto me parece um pouco mais preocupante.... Se a isso ainda somarmos o fato do grande número de nossos expectadores serem analfabetos funcionais acho que temos a medida de nossa responsabilidade ao trabalhar com peças gráficas que, por muitas vezes, se transformarão na maneira de uma pessoa "ler" o mundo.